Aqui, Farida explica como foi difícil abandonar sua casa e como ela está construindo uma nova vida para sua família em Za’atari.

“Minha casa na Síria tinha dois quartos, uma sala e uma vendinha que abrimos para ganhar algum dinheiro. A casa tinha um tamanho muito bom. Do lado de fora tínhamos uma pequena horta onde plantava laranjas, azeitonas e amêndoas. A horta era especial, e as crianças tinham espaço para brincar.

Vivíamos felizes. Meu marido trabalhava, meu filho trabalhava e eu cuidada da pequena plantação. Não precisávamos de nada e nunca imaginaríamos que um dia viveríamos aqui ou que veríamos as coisas que vimos. Nunca pensamos em vir para a Jordânia, nem mesmo para uma visita. Mas aqui estamos. Fomos bem tratados, mas é difícil morar longe de casa.

Lembro-me especialmente do Ramadã, quando fazíamos uma grande festa em minha casa com vizinhos, família, amigos e filhos. Aproveitávamos cada dia dessa festa e a bondade prevalecia entre as pessoas. Cozinhávamos muitos pratos diferentes e os servíamos na mesa de jantar. Era especial. É diferente aqui. Aqui, todos estão preocupados. Todo mundo chora. A tristeza está em cada coração. Cada família perdeu um ou dois de seus entes queridos. Ou então perderam suas casas e foram deslocadas.

Perdemos nossa casa quando o exército chegou. Eles destruíram uma grande parte da minha casa com um tanque; então, os oficiais de segurança tomaram a casa, montaram um posto de controle e se instalaram nele. Tivemos que sair porque não havia mais lugar para ficar. Saímos e viemos para cá.

Primeiro pensamos em ficar aqui apenas um mês e depois voltar a viver normalmente. Ficar aqui por mais de um mês estava fora de questão. Mas ainda estamos aqui.

Alguns de meus filhos perderam a esperança de voltar para casa. Eles estão seguros aqui, mas não têm a alegria da vida. Em casa, eles costumavam brincar, ser felizes, cantar e dançar”.

“Quero voltar para casa, para a vida que tínhamos. Nosso futuro está lá. Quero que meus filhos cresçam em seu país. Eu quero ser enterrada lá”.